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Turismo: e o mercado da saudade?

 

Os operadores turísticos regionais pretendem fazer uma nova aposta no turismo nacional, oferecendo pacotes de uma semana, entre fevereiro e março, orientados para o surf, o golf e passeios a pé, na convicção de que os visitantes portugueses são quem mais gasta nas suas deslocações.

Se isto foi verdade antes da crise, não sucede agora. A situação económica do país afetou muito o poder de compra da classe média.

No continente, os hoteleiros viram-se forçados a reduzir muito os preços pois, de contrário, teriam encerrado instalações. Com uma política comercial mais agressiva os resultados surgiram, a ver pelo aumento dos visitantes estrangeiros, que beneficiaram também do preço das tarifas aéreas praticadas pelas companhias de baixo-custo.

Enquanto o país não se reabilitar e as dificuldades financeiras por que passa grande parte da classe média não forem ultrapassadas – se é que isso irá acontecer tão cedo como se apregoa - nada será como dantes.

É minha convicção de que as anunciadas semanas açorianas de surf, golf e de passeios a pé, não terão, infelizmente, grande procura, apesar das propostas aliciantes.  

Os Açores continuam a ser um destino cheio de potencialidades, como reconhecem o crescente mercado alemão e outros visitantes europeus amantes dos destinos de natureza, mas muito há a fazer.

Os dados recentemente revelados sobre a subida de ocupação das instalações do turismo em espaço rural, deveriam, no entanto, fazer-nos refletir sobre as razões dessa preferência.

Os turistas estrangeiros pretendem, cada vez mais, conhecer a cultura e identidade de cada uma das ilhas, não o duvido, daí pretenderem instalações e espaços próximos da vivência dos residentes que mantêm vivas tradições culturais singulares de enorme atratividade. Refiro apenas duas: As Danças e Bailinhos do Carnaval da Terceira e as Festas em louvor do Divino Espírito Santo.

As Danças, cujo património imaterial se pretende inventariar, certamente para integrá-las no património mundial da UNESCO, tem uma envolvente sócio-cultural de grande relevância a que ninguém, minimamente interessado em manifestações culturais do teatro popular, fica indiferente. 

Em centros urbanos de maior dimensão, as danças, devido ao envolvimento de milhares de atores, seriam integradas num grande Festival e teriam a publicitação conveniente. Entre nós, porém, as danças de carnaval da Terceira, não alcançaram a devida procura e  dimensão regional, nem a merecida projeção externa.

O mesmo acontece com as Festas do Divino Espírito Santo.

Este ano decorrem são na primeira semana de junho, no fim da primavera.

Os Impérios e Coroações tiveram um revigoramento popular assinalável que só uma forte convicção religiosa justifica.

A sua matriz comum é uma Fé secular na 3.ª Pessoa da Divindade, a quem se recorre nas adversidades da vida. O cumprimento das promessas, é feito pela partilha de alimentos em grandes e abundantes jantares e na distribuição de massa sovada em forma de rosquilhas e bolos de véspera, a quantos passam pelos impérios ou bodos que decorrem em todas as localidades açorianas.

Que melhores atrativos para revelar a quem nos visita a nossa identidade?

E por que não envolver nesses tempos festivos os açorianos da diáspora, convidando-os a revisitarem as tradições e memórias de tempos antigos?

O mercado da saudade tem imensas potencialidades turísticas, pois engloba a segunda e terceira gerações de americanos e canadianos interessados na  “heritage” - herança dos antepassados. Infelizmente, este potencial nunca foi nem acarinhado, nem dinamizado, apesar de constituir uma excelente porta de entrada para o enorme mercado americano. Porquê?

Os Açores são um destino que está na moda pelo que têm de singular. O melhor que nos identifica, entre tantas potencialidades, é a nossa beleza natural, a cultura e religiosidade populares.

É isto esta a melhor aposta do produto turístico - Açores.

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